Goodbye, goodbye

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São duas e vinte e cinco da manhã. Há cerca de uma hora louvei a noite de sono longa e sóbria, mais de oito horas, difícil por esses dias. Mas não, não consigo. Acordo com a tua gata me arranhando e mordendo inteira, me chamando de cretina. Nos meus sonhos ela fala, me pede atenção, me acusa de crimes que eu não cometi. Sejamos francos, eu não cometi.

A verdade é que tudo mudou de lugar. Tudo perdeu um pouco de cor e eu, que ria imaginando que isso não tinha fim, vi meu amor sair correndo e bater a porta. Eu, que acreditava que ele nunca iria embora, ficaria ali, quietinho, fumando um cigarro enquanto se acalmava vez ou outra, simplesmente se foi. A verdade é que tu mandaste ele embora. Senhor da nossa história, foste tu o responsável. Eu só observei, num desespero lento, ele decidir dar o fora.  Ele já não agüentava mais. Já se roía de agonia, de amargura, de fome poucas vezes saciada. Eu, que tantas vezes me perguntei se tu eras a pior ou a melhor coisa que já tinha me acontecido, finalmente tive certeza.

Depois que ele se foi sobrou muito pouco, quase nada. Uma dorzinha no peito, uma saudade ligeira, uma vontade de sumir. O Vazio foi chegando devagar, pedindo espaço e eu deixei. Abri a porta pra ele entrar, servi uma cerveja e ele resolveu ficar. Não é um bom hóspede. Faz barulho demais, não me deixa dormir, não me deixa esquecer que eu já conheci uma vida da qual ele não fazia parte. Não me deixa esquecer que outro ocupava o seu lugar. É ciumento, o Vazio.

De qualquer forma, já me acostumei a a ele. De vez em quando grito, imploro que cale a boca, e ele pára. Continua ali, mas não fala. Não por muito tempo. Ele sabe que daqui a pouco vai embora, e então se inquieta. Sabe que está perdendo espaço. Outro Amor bate à minha porta, e eu preciso atendê-lo. Não posso deixar que vá embora. Não posso deixar que canse de me esperar, dessa vez inteira.

Já são quatro horas. Escrevo-te apenas por esse costume, essa tradição mórbida de falar qualquer coisa que me passe pela cabeça. Perdoa a falta de objetividade, mas são apenas memórias. Dispensam clareza, meio ou mensagem. A bem da verdade, nosso fim reside no silêncio. Então adeus, querido, adeus para não dizer.

A madrugada já vai longe, e eu também.

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